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SE ESTIVER IGUAL…

Sabe aquelas pessoas que, de alguma forma, ficam na memória da gente? Então. Assim é com um colega da época de exército, o Bússola.
Eu tive de passar um ano frequentando, como muita gente, o Tiro de Guerra de minha cidade.
Acordar cedo, fazer exercícios por volta de seis horas da manhã na grama molhada e gelada, ouvir instruções sobre coisas internas do Exército (pelas quais não tinha e não tenho nenhum interesse) e, claro, aprender a ordem unida, nome bonitinho para a marcha em grupo.
Na minha turma havia um colega – não sei seu primeiro nome, só o sobrenome – o Bússola. Na ordem unida ele era sempre o último homem da coluna da esquerda. Com corpo atlético, como a maioria dos soldados da turma, mas meio curvado para frente, ele tinha uma peculiaridade: em um
ano de ordem unida, NUNCA marchou no mesmo passo dos outros.

Parecia combinado. Quer saber se está marchando certo? Olhe para o Bússola. Se estiver igual…
Mude que está errado!
Nunca mais tive notícias dele. Soube de outros que eram de minha turma. Um dos mais atrapalhados, por exemplo, virou político (por que será?). Mas, do Bússola, nunca mais tive notícias.
Hoje, pensando nesta lembrança, me pego indagando: tal como ele, não quero ser mais um na multidão. Não quero ser contado entre os que vivem como se tudo estivesse bem, quando as pessoas são tão desvalorizadas e a idiotice virou lugar comum.

Não quero ser mais um que valoriza o ter sobre o ser; o mercado sobre o indivíduo; a polarização sobre o raciocínio.
Se me vir marchando igual à maioria, por favor, me avisem. Trocarei de passo, pois minha sintonia é outra.