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O QUE É PARA MIM?

O ano é 1976. Minha mãe, depois de ficar sete anos viúva, decidiu se casar de novo. Depois de consultar os filhos sobre a decisão, marcou o casamento e nos mudamos para a casa do seu Benedicto (ele fazia questão do c), agora nosso padrasto.

Logo na primeira vez que nos assentamos à mesa para almoçar (ou jantar, não me lembro ao certo), aconteceu algo imprevisto. Colocados os pratos e a baixela com os alimentos, fiquei esperando sem colocar nada no meu prato.

Minha reação era condicionada. Nos anos anteriores, desde a morte de meu pai, fomos morar com a minha avó paterna e, além de minha mãe e seus três filhos, havia quatro tios/tias e uma parente de minha avó. Cada refeição era dividida de acordo com a idade ou trabalho de cada pessoa. Assim, meus tios, que trabalhavam, tinham um tipo de comida; minhas tias, outra, e eu e meus irmãos, outra. Em cada refeição a cena se repetia.

Minha pergunta básica era: “o que é para mim”? E meu prato era preparado com o que era previamente destinado a mim. Portanto, a reação na primeira refeição na nova casa era mais do que natural. E a pergunta se repetiu: “o que é para mim”? A novidade foi a resposta. “O que você quiser”!

“Como assim, o que eu quiser? Posso pegar qualquer coisa”? “Sim”, respondeu minha mãe, “pode fazer o seu prato com o que você quiser”. Imagine a minha cara de satisfação diante do que tinha acabado de ouvir…

De lá para cá, tenho mantido esse mesmo padrão também na minha casa. Cada um escolhe o que quer comer, o que quer estudar, em que área quer trabalhar. Se não gosta de algum alimento, escolha outro; se não se dedicar aos estudos, provavelmente não conseguirá trabalhar naquilo que realmente gosta de fazer. A escolha é responsabilidade de cada um.

Quanto a mim, sigo fazendo o mesmo. Do alimento ao vinho, do livro ao curso universitário, do esporte praticado à série de TV, a escolha é minha. Às vezes escolho mal. Outras escolho bem. Mais uma coisa é certa: não pergunto mais: “o que é para mim”?