Segundo estudos da Dra. Sheri Jacobson, psicoterapeuta e diretora clínica da Harley Street Therapy, falar mal dos outros pode ser o resultado de estresse descontrolado. “Nós nos sentimos assoberbados ou ameaçados e, ao invés de encontrarmos uma válvula de escape saudável antes de enfrentar a situação, o nosso instinto é de colocar tudo para fora”.
A reclamação muitas vezes acaba sendo um tipo de esporte coletivo que pode gerar um sentimento de proximidade com outros através da rejeição mútua de uma pessoa ou situação. “Quando reclamamos, muitas vezes estamos procurando alguém de confiança para concordar conosco, ficar do nosso lado e minimizar as nossas inseguranças”, diz Jacobson.
E para aquelas criaturas infelizes que reclamam constantemente, a prática pode vir da insegurança que sentem ou ser usada como um mecanismo de defesa. “A reclamação constante pode fazer com que alguém que secretamente se sente vulnerável pareça ‘duro na queda’”, diz a pesquisadora. “É também uma forma de desviar a atenção das partes de si mesmo que não querem que os outros percebam”.
De fato, há estudos que apontam que isso pode ser um risco à própria saúde e bem-estar. “Reclamar e falar mal pode ser um forma de inveja, que acaba minando a nossa confiança e ego”, adverte Nicci Roscoe, de The Mind Makeover Artist. “Essa prática pode dominar a sua vida se você permitir e o estresse que isso traz resultará em falta de sono e exaustão, o que pode afetar o seu trabalho e vida pessoal”.
Não confundir com o desabafo comum que se faz depois de um dia desgastante de trabalho: “Se estamos chegando em casa após um dia péssimo no trabalho e precisamos desabafar com nosso parceiro ou cônjuge – que nos conhece bem o suficiente para saber que precisamos desabafar e não conhece pessoalmente as pessoas de quem estamos falando – e aí podemos sair com a sensação de alívio do nosso estresse, de que alguém importa-se conosco e que a coisa não irá adiante de maneira negativa”.
Mas reclamar ou falar mal de alguém no ambiente errado — como no trabalho ou com um grupo desconhecido de pessoas — pode lhe colocar numa situação ainda pior. “Se alguém passa por momentos de desafio em diferentes áreas da vida, então talvez ela ache que reclamar ou falar mal de outros fará com que ela seja percebida e alcance uma posição melhor mais rápido”, diz Roscoe. “O que você não percebe é que a pessoa está sendo notada da maneira errada! Quem quer se associar com uma cobra que pode lhe apunhalar pelas costas?”.
Para muitos, reclamar é um vício, um hábito terrível que é difícil de abandonar. Então como é possível parar de uma vez por todas? Roscoe diz que a melhor forma de parar de reclamar ou falar mal é mudar o padrão de pensamento negativo. “Reclamar pode tornar-se um ciclo vicioso e a melhor forma de sair dessa é pensar e falar de forma positiva — não apenas sobre si mesmo, mas sobre outros também.”
Para o escritor da carta de Tiago (3,1-12), a coisa é bem mais simples: “A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade, ocupa o seu lugar no nosso corpo e espalha o mal em todo o nosso ser. Com o fogo que vem do próprio inferno, ela põe toda a nossa vida em chamas. O ser humano é capaz de dominar todas as criaturas e tem dominado os animais selvagens, os pássaros, os animais que se arrastam pelo chão e os peixes. Mas ninguém ainda foi capaz de dominar a língua. Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém a pode controlar. Usamos a língua tanto para agradecer ao Senhor e Pai como para amaldiçoar as pessoas, que foram criadas parecidas com Deus”. Haveria solução para a língua?